Eu estava fechado para o amor. Mas ele não respeita travas,
fechaduras ou portas, não, ele não se importa. O amor é invasão de domicílio. É
apropriamento indevido. Da janela de mim eu via pessoas passarem apressadas.
Pessoas de passos largos e corações apertados. Do escuro quarto da minha alma
eu via terceiros passarem em segundos. Já estive lá fora também, mas primei
pelo erro. Mas isso fora antes. Agora eu era prisioneiro de mim mesmo. Das
janelas eu também via a chuva cair sem forças pra me levantar. Não podia
ouvi-la, toca-la, senti-la. Ela lá, eu dó. Melodias e melodramas tocados em
diferentes notas musicais. Eu, à deriva de mim, barco sem cais. Chovia naquela
tarde de quarta-feira, 25 de Setembro. Sim, da chuva eu me lembro. Mas confesso
não saber dizer ao certo como tudo aconteceu. Pela janela do quarto eu vi um
clarão, o céu chorava e gritava “TROVÃO!”. O céu, então, no chão uma menina
derramou. Não sei o porquê, nem por quais razões, mas com um único olhar aquela
menina me desarmou. Fechei as cortinas dos olhos com medo dos efeitos
colaterais da tempestade que se iniciara lá fora e transcendera pra dentro de
mim. Corri tremendo, mas pequeno, e de nada adiantou me esconder debaixo da
cama. E hoje eu sei que só se deve amar a quem realmente ama.
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